Mais uma roda já em seu início, em andamento e os Deuses mostrando e dando lições valiosas.
O duro é que, mesmo tendo anos de Caminho, me surpreendo a cada lição dada, a cada forma diferente, inesperada e inusitada D’Eles ensinarem.
O mais gostoso de se trilhar a Senda Antiga é reconhecer, tentar compreender e aproveitar, ao máximo, os ensinamentos que nos são dados.
Neste Sabbat, Imbolc de 2013, mais uma vez fui surpreendido. Os Deuses me mostraram e relembraram algo que havia esquecido.
Nesta celebração maior, me recordaram que é tempo de se nutrir a terra, mas que também é momento de se efetuar a limpeza em nossas vidas, nossos Caminhos. Limpeza esta que nem sempre nos é agradável ou desejada mas, no entanto, nos é necessária.
Vale lembrar que é em Imbolc que se dá a confirmação e início de muitas coisas, principalmente de caminhos ‘adormecidos’ que, de certa forma, são apressados para a sua efetivação. Imbolc é marcado por ser a época de ‘purificação’ em todos os aspectos, de nova luz, novos começos, nova vida, novo ciclo.
Com isso, a purificação realizada pela limpeza traz grandes, significativas e marcantes mudanças em nós e em nossa vida. Mudanças nem sempre bem-vindas e compreendidas.
Na grande maioria das vezes não temos e não enxergamos o “bem maior” por traz de tais mudanças. Quer seja por nos ser desagradáveis, indesejadas ou por, de alguma forma, nos trazer algum tipo de dor e/ou sofrimento.
Por vezes, em nossa pequenez, nos esquecemos do velho dito que diz que “há males que são para bem” e que na grande parte do tempo “o que não aprendemos pelo amor, aprendemos pela dor”. Lições que jamais devemos nos esquecer, uma vez que são universais e ultrapassam as barreiras do tempo, das eras, mundos e gerações.
Isso me lembra um cohan budista em que, um monge ao ver a inatividade e dependência de uma família em torno de uma vaca, percebe que a família almeja coisas que jamais conquistarão pois está numa zona de conforto que se recusa a sair. Ao ver isso decide, ao ir embora, jogar a vaca em um precipício. Para muitos, assim como foi para o jovem aprendiz que acompanhava o monge, isso pode parecer crueldade, um ato desalmado. Por que, afinal de contas, retirou-se todo o ‘sustento’ e tranquilidade que aquela família possuia.
Entretanto, quando retornaram a mesma casa – mais ou menos uma roda –, nota que a família conseguiu alcançar tudo o que almejavam e mais. Ao serem questionados, respondem que ‘por coincidência’ no dia em que os monges partiram, sua vaca havia caído no precipício e que desde então tiveram que trabalhar em novas formas de sustento e novos meios de tranquilidade e que, desta forma, conseguiram melhorar seu padrão de vida e adquirir os bens que tanto desejavam. Com isso, o monge mostra a seu discípulo que muitas vezes (pra não dizer a maior parte do tempo) o ato ‘cruel e desalmado’ aos olhos de pessoas que se prendem a momentos, é, na verdade, um ato de compaixão ao outro. Somente assim algumas pessoas podem crescer (espiritualmente, financeiramente e emocionalmente) e avançar rumo a sonhos que, se continuassem em sua zona de conforto, jamais seriam alcançados.
Com isso venho chamar a atenção para que nos atenhamos não a nossa pequenez ou a pequenez do outro, não ao momento e a piedade tão cristã existente em voga, mas sim a um crescimento maior, a uma responsabilidade e consciência de um bem muito maior do que nossas visões momentâneas são capazes de compreender e alcançar. Lembre-mo-nos que jamais se aprende a comer se não sentirmos fome.
Momentos são instantes que se perdem na poeira do tempos. Se ganha experiência e aprendizado. Se com nossos erros não aprendermos nada de nada adianta vivermos, pois estaremos num ostracismo que só cabe aos vermes – comer, defecar e morrer.
Os Deuses, em Imbolc, nos ensinam que estamos muito além dos vermes, muito além de seres que só servem pra pasto. Com isso nos trazem purificação, nos forçam a limpar não apenas o que não nos serve ou cabe, mas também a limpar o outro. Induzem um crescimento que muitas vezes não queremos por mero comodismo. E este crescimento, de um modo ou outro, afeta a todos.
Que os Deuses Antigos nos aqueçam com suas chamas transformadoras e que possamos, ao nos purificar, preparar e nutrir a terra para novas sementes e novas colheitas.
Nubius Pendragon – Fev/2013
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